jueves, 24 de octubre de 2013

domingo, 13 de octubre de 2013

Exposición de dibujos en Memorial de América Latina, Sao Paulo, 2011

O traço poético de Julia Vallejo

            Um diálogo estético entre os artistas argentinos radicados em São Paulo
e os que não saíram de sua pátria está dando os primeiros passos nesta exposição.
Julia Vallejo Puszkin é uma jovem artista que tem ganhado alguma evidência em Buenos Aires.
Neste ano ela expôs no Centro Cultural Recoleta um trabalho, em dupla com Federico Puiggrós,
bastante interessante - o aclamado “Los Aparatos”, que fez parte do Fase 3 Festival de Arte e 
Tecnologia. São obras tridimensionais, verdadeiras engenhocas que misturam arte e tecnologia antiga.
 Os nomes das peças são impagáveis: “El Desintelectualizador”, “El Acelerdor de Tramitaciones
psíquicas” e “La trituradora de sentimentos de culpa”...
            Se em seu país ela trabalhou com bom humor a intersecção homem/máquina, para o Brasil
trouxe o lado mais lírico da sua produção: “Quando penso nos bosques, imagino todo um mundo
 encantado, de contos, histórias clássicas, o verde, o ar. Mas algo também evoca em mim uma incerta
 sensação de ameaça. Ameaça ou temor que revela que isso que sabemos essencial para nosso planeta,
se mostra frágil.”
           Para expressar essas sensações contraditórias, Julia Vallejo desenha delicadamente essa
 fragilidade, conforme ela explica: “a recordação, a sombra, a nostalgia, a infância, as bordas dos abismos...
 temas reunidos através de um fio condutor: o Outono, que torna presente certo frescor melancólico
do tempo que nos atravessa e nos lembra que devemos nos desprender de velhas roupagens.”
           Julia Vallejo traz ao Memorial quatro obras em formato pequeno (30 X 40 cm). Duas a nanquim 
e duas a grafite. A artista escolheu o outono como tema, “a tristeza do bosque que recorda seu verdor, as 
sombras do que não está, mas que também, mesmo desnudado na espera, sabe que alguma primavera virá”.
          A composição limpa, o claro/escuro, o uso inteligente do vazio contribui para evidenciar a
mensagem da artista. O traço preciso, sensível, livre mas contido, obsessivo no seu hiper-realismo
criam folhas que deixam as árvores mas não balançam levadas pelo vento, não têm mais a naturalidade
 de antigamente. Estão penduradas no varal, como que para secar depois de lavadas; ou então
formam uma nuvem ameaçadora pairando sobre uma árvore pelada. Esse não é o dilema  dos nossos dias?

Eduardo Rascov


Lírica poética
O traço que se expressa na forma de desenho é uma marca digital do artista. Constitui um
mecanismo dos mais delicados para um criador plástico deixar a sua assinatura do mundo.
Trata-se de uma personalidade, um documento estético que revela uma maneira de conhecer
visualmente a realidade.

Julia Vallejo Puszkin consegue justamente esse efeito ao construir suas imagens de folhas, árvores e
mesclas entre seres humanos e elementos da natureza. Seja com tinta chinesa ou com grafite, atinge um
resultado visual caracterizado pela delicadeza e pelas circunstâncias como utiliza o branco do papel.

Há uma forma bastante pessoal de lidar com os vazios e os cheios, sendo que os primeiros contribuem
 decisivamente para erguer um universo misterioso, quase fantástico de indagações. As perguntas
passam a ocupar o espaço com os múltiplos caminhos possíveis de estabelecer elos entre as
pessoas e os mais variados ambientes.

O grande ensinamento que os trabalhos trazem é a mistura de uma sutil ingenuidade com uma sabedoria
 adquirida pela prática constante. Desse processo difícil de concretizar, surge um rico universo visual que
 se distingue pela delicadeza, que gera deslumbramento poético e uma lírica poética muito pessoal.
 Oscar D’Ambrosio